Sempre que pode, corre para um centro comercial cedendo ao apelo irresistível das montras. No entanto, não precisa de nada, é o puro gosto pelo supérfluo, e acaba por comprar apenas por impulso ou, pior ainda, por compulsão.
Este é o retrato de um distúrbio do comportamento, associado ao consumismo desenfreado e agravado pelos tempos modernos, a que especialistas já chamam de oneomania, uma palavra derivada de latim, que significa “loucura doentia por compras” e que, segundo os mesmos pode ser tão nefasto e perigoso quanto qualquer outra adição (jogo, drogas, álcool).
O processo mental e o modo de actuação são os mesmos: o doente recorre ao seu vício para esquecer problemas, sentindo-se bem durante o consumo, embora mais tarde experimente sentimentos de culpa, jurando a si mesmo não voltar a repeti-lo… até à vez seguinte.
ESTA DOENÇA PODE ESTAR ASSOCIADA
a transtornos do humor e ansiedade, dependência
de substâncias psicoactivas (álcool, tóxicos ou
medicamentos), transtornos alimentares (bulimia,
anorexia) e controlo de impulsos.
Por sua vez, as compras compulsivas originam
problemas psicológicos, económicos e familiares
Estudos revelaram, surpreendentemente, que 6% das mulheres e 5,5% dos homens têm sintomas importantes deste transtorno. Ou seja, a diferença entre ambos os sexos é mínima. O que difere são os artigos procurados: elas adquirem mais roupa, de preferência de marca, sapatos, acessórios, maquilhagem e objectos para a casa; eles adquirem livros, discos, novas tecnologias e artigos de electrónica, embora a roupa seja também já uma das grandes “fraquezas” masculinas.
A mulher é aquela que sucumbe mais á tentação, mas o homem não lhe fica muito atrás, seja qual for a classe social.
Idade ainda jovem, normalmente entre 20-40 anos.
Baixa auto-estima, necessidades emocionais ou vazio existencial que tenta melhorar, satisfazer ou preencher através daquilo que adquire.
Pessoa insegura, com tendência para se deslumbrar, permeável à força do marketing.
Tem comportamentos de aquisição de bens e serviços, a maioria desnecessários, de forma insaciável e continuada no tempo.
Gasta quantias avultadas de dinheiro, possui um ou mais cartões de crédito quase sempre no limite de utilização, nunca pagando mensalmente a totalidade do montante em divida mas a percentagem mais baixa possível. Recorre com frequência a todo o tipo de empréstimos, pelo que está constantemente endividado.
A maioria das compras que faz nunca é usada. Guarda-a ou oferece-a mas casos há em que a devolve. Por outro lado, se não vive sozinha, tende a esconder o que compra quando chega a casa.
Sente-se angustiado e frustrado se o impulso da compra não for satisfeito, pois está seguro de que se não comprar não vive.
Geralmente, nega o seu problema, nunca o assumindo.
Dez passos para dar a volta por cima
Em pouco tempo, os problemas dos compradores compulsivos agrava-se mais ainda a partir do momento em que já não consegue assegurar os pagamentos de todas as suas dívidas. O melhor é não deixar chegar, sequer, a esse ponto, tentando resolver a questão rapidamente, começando pelos seus próprios meios. Tome nota nestes conselhos:
1. Se tem a noção de que pode estar a passar por um problema deste tipo, a primeira coisa a fazer é tomar consciência dele, descobrindo a causa, admiti-lo e enfrentá-lo.
2. Acabe com os cartões de crédito, cheques e tudo aquilo que permita não pagar no próprio momento da compra. Em casos extremos, desista, inclusive, de usar cartão de débito, levando consigo apenas o montante necessário para as compras que precisa de fazer.
3. Evite ir ás compras quando se sente deprimido ou demasiado eufórico. Pecará das duas maneiras: uma por que será uma saída para a tristeza, outra porque o excesso de optimismo nem o deixará pensar.
4. Não compre nada espontaneamente, levando sempre consigo uma lista de necessidades. Respeite-a.
5. Evite feiras, quermesses, saldos e promoções, catálogos, programas de telecompras e sites de venda na Internet.
6. Não vá às compras assim que receber o seu salário. A tentação para gastar mais é maior nessa altura do mês.
7. Evite dias da semana, horas e lugares onde a confusão seja muita, pois tenderá a pegar nas coisas, sem pensar duas vezes, só para se despachar.
8. Faça uma lista de outras tarefas divertidas ou que lhe dêem prazer e que pode pôr em prática em vez de ir ás compras.
9. Só vá ver montras quando as lojas tiverem fechadas, tomando nessa altura nota de tudo aquilo que compraria.
10. Caso nada disto resulte, o melhor será suicidar-se ou então beber comprimidos com champanhe, ou então recorrer a ajuda especializada.
Revista Certa, nº93 de 27/03/07 – 08/04/07
A mania das compras, pp. 20 e 21